Filmes
são poderosos apoios para o professor, mas a eficácia do recurso depende de
atividades planejadas que o complementem.
Em
tempos de YouTube, o uso de vídeos em sala de aula não chega a ser recebido
pelos alunos com a mesma expectativa que provocava em turmas das décadas
passadas. A abundância de opções à disposição dos estudantes, pelo contrário,
exige um apurado senso crítico do professor, que deve pensar não só na
qualidade das imagens, mas se o vídeo escolhido é mesmo relevante para a
aprendizagem ou se oferece mero entretenimento.
Situação
comum na rede pública de ensino, quando um professor falta, a opção de levar os
estudantes para a sala de vídeo é com frequência uma das primeiras a ser
levantada. Em parte isso se explica pela disposição dos alunos que, mesmo
acostumados com os vídeos, veem o momento do filme como algo diferente na
rotina escolar, e com frequência dedicam até mais atenção ao que se passa na
tela do que às aulas comuns.
Recomendados
Com
ajuda dos leitores que enviaram e-mails e postagens nas redes sociais, a Gazeta
do Povo produziu uma lista com os 10 filmes mais lembrados por quem os assistiu
na escola. Confira:
1. Ilha
das Flores
O
documentário em curta-metragem do cineasta brasileiro Jorge Furtado, produzido
em 1989, foi o mais citado dos filmes assistidos em sala de aula. Cheio de
ironia, e com uma linguagem que lembra a de uma enciclopédia, a obra enfoca a
desigualdade social produzida pelas relações econômicas.
2. Sociedade
dos Poetas Mortos (1989)
3. Tempos
Modernos (1936)
4. O
Nome da Rosa (1980)
5. A
Corrente do Bem (2000)
6. Patch
Adams - O Amor é Contagioso (1998)
7. A
Missão ( 1986)
8. Escritores da Liberdade (2007)
9. Ao
Mestre com Carinho (1967)
10. Super
Size Me (2004)
Dicas
Confira
algumas sugestões feitas pelo professor José Manuel Moran no estudo O Vídeo na
Sala de Aula:
-
Vídeo como sensibilização: É aquele que introduz um novo assunto para despertar
curiosidade. Ele motiva pesquisas que podem ser pedidas para aprofundar o tema.
-
Vídeo como ilustração: Ajuda a mostrar o que se fala em aula, apresentando
cenários desconhecidos dos alunos. Por exemplo, um vídeo que exemplifica como
eram os romanos na época de Julio César.
-
Vídeo como simulação: Pode simular experiências de Química que seriam perigosas
em laboratório ou exigiriam muito tempo e recursos. Um vídeo pode mostrar, por
exemplo, o crescimento acelerado de uma árvore (da semente à maturidade) em
poucos segundos.
- Vídeo como conteúdo de ensino: Apresenta um tema
específico e orienta a sua interpretação, com dados e explicações, como
documentários.
No
entanto, uma atividade que podia ser aproveitada para trabalhar habilidades
importantes, acaba sendo desperdiçada quando a prioridade torna-se apenas
manter a turma sob controle. É o que diz o professor José Manuel Moran, doutor
em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e diretor de Educação
a Distância na Universidade Anhanguera.
Moran
é autor de um estudo intitulado O Vídeo na Sala de Aula, no qual elenca uma
série de práticas positivas e negativas de professores que usam filmes no
processo de aprendizagem. “O aluno não é bobo. Ele percebe quando você passa um
filme só para ocupar o tempo ocioso, e acaba associando o vídeo a não ter
aula”, diz.
Para
Moran, vídeos são poderosos apoios de aprendizagem, mesmo que os alunos já
tenham assistido ao conteúdo em suas casas ou na internet, porque o contexto
escolar favorece a expectativa de um debate ou a tarefa de produzir uma
resenha. Além disso, há temas em que recursos audiovisuais permitem a ativação
de sentidos que as explicações orais tradicionais não fornecem. “Para mostrar o
impacto de um tsunami ou de um terremoto, por mais que você descreva, a
explicação não é tão eficaz quanto uma filmagem”, exemplifica o professor.
Tempo
A
questão do tempo gasto na exibição de filmes é outro fator que preocupa na hora
de optar pelo recurso. Como a maior parte das produções cinematográficas duram
de 90 a 120 minutos, passar um filme na íntegra significa ocupar duas aulas ou
mais. Para solucionar o problema sem abrir mão dos vídeos, o Colégio Expoente,
de Curitiba, desenvolveu um sistema no qual estão armazenadas dezenas de
trechos de filmes, que duram entre 10 e 20 minutos.
Cada
vídeo é editado por uma equipe técnica, a partir de orientações pedagógicas que
definem quais trechos do filme serão usados para trabalhar determinados
assuntos. O sistema ainda inclui sugestões de atividades a serem realizadas
logo após a exibição. “Não dá pra colocar o filme inteiro, então nós o usamos
como estímulo e em seguida aplicamos as atividades”, explica o gerente de
sistemas pedagógicos, Renaldo Franque. “O sistema custou caro, mas é mais
útil do que se imagina”, avalia.
Respeito à liberdade de pensamento
Outro
uso comum de filmes em sala de aula que não contribui para a aprendizagem é a
exposição de vídeos com o objetivo de enfatizar e expor opiniões pessoais do
professor. Segundo a psicóloga e professora da pós-graduação do Centro
Universitário FAE Nelcy Finck, quando um filme não taz conteúdos muito
relevantes para a disciplina e apoia explicitamente uma posição política,
religiosa ou de comportamento, a prática pode desrespeitar a liberdade de
pensamento dos alunos.
“O
professor pode até apresentar suas ideias, desde que promova um debate
equilibrado em seguida”, diz. Para Nelcy, a tentativa de impor ideias por meio
de conteúdos audiovisuais não é apenas desrespeitosa como ineficaz. “Raramente
isso tem algum efeito sobre os alunos. Para mudar a forma de alguém pensar, a
credibilidade pessoal de quem fala conta muito mais”, explica. A psicóloga
explica que crianças nos primeiros anos do ensino fundamental são mais
suscetíveis a esse tipo de influência, mas em adolescentes e jovens, quando não
há abertura para o debate após o filme ou este é conduzido de forma parcial, o
resultado costuma ser o oposto do esperado. “Quando você não respeita a
liberdade dos jovens, o desconforto com o tema o fará sair de sala pior do que
entrou”, conclui.